Thursday, June 21, 2007

"Contemplo o lago mudo

Que uma brisa sacode.

Não sei se fodo tudo

Ou se tudo me fode.


A brisa é o lago a ir

A uma ideia de mar.

Não sei se me ate a rir

Ou desate a chorar.


Trémulos vincos medonhos

Cercando a água toda,

porque fiz eu dos sonhos

A minha única nódoa?

...

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!

Supor o que dirá

Tua boca velada

É ouvir-te já.


É ouvir-te melhor

Do que o dirias.

O que és não vem à flor

Das caras e dos dias.


Tu és melhor - muito melhor! -

Do que tu.

Não digas nada. Sê

Alma do corpo nu

Que do espelho se vê."


Mário Cesariny
in “O Virgem Negra”

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