Saturday, December 29, 2007

Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou Deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Escuto - Sophia de Mello Breyner Andresen

Wednesday, December 26, 2007

A estupidez

É difícil viver habitualmente depois de se descobrir que se é estúpido. Há quem leve menos tempo. Há quem descubra isso num instante. Há quem demore três décadas e meia. O último refúgio («ao menos não sou estúpido»), usado e abusado nos piores momentos ou nos mais ridículos. E agora, agora já não vale. Uma inteligência teórica sem voo. Uma inteligência prática cega. A estupidez, como o paciente forçado de um médico positivista, crânio medido e anotado, os estigmas da sua condição nas feições facínoras. Um burguês sem outros talentos especiais tem (quando tem) esse consolo, essa quase salvação: «ao menos não sou estúpido». Uma refrão refractário, como se todos os resultados não fossem prova em contrário. Uma conclusão conclusiva, como se a quantidade não fizesse qualidade. Um homem inteligente que, envolto no manto da sua inteligência, atravessa um rio em que não tem pé, percebe isso a meio, a mais de meio, não pode regressar atrás, não consegue chegar à outra margem, esteve sempre protegido pela sua inteligência, pela suposição dela, que agora fraqueja e logo se evapora. Um homem à morte que de repente se percebe estúpido. Que é estúpido por se ter abeirado assim da morte, confiado em fantasmas. Que por ter avançado assim, crente em assombrações, é estúpido, e definitivamente estúpido. Um homem que de repente não tem pé, mas não é aos seus pés que falta o apoio, é à sua cabeça, ao interior do sua cabeça, uma cabeça que não tem pé, que não tem conteúdo, que não fundamento, assim imóvel num rio que tentou atravessar a vau porque tinha a certeza, e que afinal atravessou porque é estúpido. Na verdade, só os familiares mais próximos deste homem podiam ter por ele alguma piedade, porque ele está onde está por sua vontade, por sua incompetência, porque não soube quem era quando atravessou o rio, porque se soubesse quem era não tinha atravessado. A verdade é que se soubesse quem era não tinha sido estúpido. E foi estúpido, colossal e irrecuperavelmente. Agora tem várias opções, todas elas estúpidas. Aos estúpidos não é concedida nenhuma opção inteligente.

Pedro Mexia

Monday, December 24, 2007

Whats it all about, alfie?
Is it just for the moment we live?
Whats it all about when you sort it out, alfie?
Are we meant to take more than we give
Or are we meant to be kind?
And if only fools are kind, alfie,
Then I guess its wise to be cruel.
And if life belongs only to the strong, alfie,
What will you lend on an old golden rule?
As sure as I believe theres a heaven above, alfie,
I know theres something much more,
Something even non-believers can believe in.
I believe in love, alfie.
Without true love we just exist, alfie.
Until you find the love youve missed youre nothing, alfie.
When you walk let your heart lead the way
And youll find love any day, alfie, alfie.

Burt Bacharach por Patricia Barber

Friday, December 21, 2007

Se eu fingir e sair por aí na noitada, me acabando de rir
Se eu disser que não digo e não ligo e que fico... e que só vou aprontar
É que eu sambo direitinho, assim bem miudinho, cê não sabe acompanhar
Vou arrancar sua saia e pôr no meu cabide só pra pendurar
Quero ver se você tem atitude e se vai encarar

Se eu sumir dos lugares, dos bares, esquinas e ninguém me encontrar
E se me virem sambando até de madrugada e você for ate lá
É que eu sambo direitinho, assim bem miudinho, cê não sabe acompanhar
Vou arrancar tua blusa e por no meu cabide só pra pendurar
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar

Chega de fazer fumaça, de contar vantagem, quero ver chegar junto pra me juntar
Me fazer sentir mais viva, me apertar o corpo e a alma me fazendo suar
Quero beijos sem tréguas, quero sete mil léguas sem descansar
Quero ver se você tem atitude e se vai encarar

Se eu fingir e sair por aí na noitada, me acabando de rir
E se eu disser que não digo e não ligo e que fico... e que só vou aprontar
É que eu mando direitinho, assim bem miudinho, sei que você vai gostar
Vou arrancar tua blusa e pôr no meu cabide só pra pendurar
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar

Quero ver se você tem atitude e se vai encarar
Quero ver se você tem atitude e se vai encarar

Cabide - Mart'nália

Sunday, December 16, 2007

Por vezes, quando não conseguimos dormir, a tristeza é um gato que vem em silêncio na noite, olhos brilhantes, e nos roça as pernas a pedir que a mimemos. Ronrona baixinho como se quisesse mimos, mas na verdade só quer que a alimentemos, que lhe passemos a mão no pelo lustroso e deixemos esse carinho secreto envolver-nos.

Olhamo-la nesses olhos e descobrimos-lhe inteligências secretas, memórias de outras vidas, algumas da nossa mesmo, com uma melancolia lânguida de movimentos que se espreguiça, que se rebola, que nos seduz.

Se a sacudirmos, se a pusermos fora do edredon e tentarmos fechar-lhe a porta, vai miar, vai afiar as garras onde não deve, pode até deixar-nos um arranhão e a carne viva a arder vai ser insónia mais duradoura.

Se tivermos sorte, vamos adormecer antes de ter de a alimentar.


By Luís Soares

Sunday, December 9, 2007

Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos; dancemos
Já que temos
A valsa começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh...
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une - é estar ausentes.



R E I N A L D O F E R R E I R A

Saturday, December 8, 2007

Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende ate ao mar

Quem te vê ao vir da ponte
és cascata São Joanina
eirigida sobre um monte
no meio da neblina.

Por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.

Esse teu ar grave e sério
num rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria

Ver-te assim abandonado
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa

*

Porto Sentido - Carlos Tê
por Rui Veloso

Friday, November 30, 2007

ROLL THE DICE

If you’re going to try,
go all the way.
otherwise, don’t even start.if you’re going to try, go all the way.
this could mean losing girlfriends,
wives, relatives, jobs and
maybe your mind.go all the way.
it could mean not eating for 3 or 4 days.
it could mean freezing on a
park bench
.
it could mean jail,
it could mean derision,
mockery,
isolation.
isolation is the gift,
all the others are a test of your
endurance, of
how much you really want to
do it.
and you’ll do it
despite rejection and the worst odds
and it will be better than
anything else
you can imagine.if you’re going to try,
go all the way.
there is no other feeling like
that.
you will be alone with the gods
and the nights will flame with
fire.do it, do it, do it.
do it.all the way
all the way.you will ride life straight to
perfect laughter, it's
the only good fight
there is
.
Bukowski

Sunday, November 25, 2007

Assim,

Começou assim
Uma coisa sem graça
Coisa boba que passa
Que ninguém percebeu

Assim,

Depois ficou assim
Quiz fazer um carinho,
Receber um carinho,
E você percebeu

Fez-se uma pausa no tempo


Cessou todo meu pensamento
E como acontece uma flor
Também acontece o amor

Assim,

Sucedeu assim,
E foi tão de repente
Que a cabeça da gente
Virou só coração
Não poderia supor
Que o amor nos pudesse prender,
Abriu-se em meu peito um vulcão
E nasceu a paixão

Sucedeu Assim - Tom Jobim

Monday, November 19, 2007

"Efectivamente, temer a morte, Atenienses, não é mais que julgar ser sábio, sem o ser, porque é imaginar que se sabe o que não se sabe. É que ninguém sabe o que é a morte nem se, por acaso, ela será para o homem o maior dos bens. Mas temem-na como se soubessem com segurança que é o maior dos males. Não será esta ignorância mais censurável, julgar que se sabe o que se não sabe?"
Platão, Apologia de Sócrates, 29b, tradução de Manuel de Oliveira Pulquério, Edições 70, Lisboa, 1997, p. 34.

Sunday, November 18, 2007

When the moon hits your eye
Like a big-a pizza pie
That's amore
When the world seems to shine
Like you've had too much wine
That's amore

Bells'll ring
Ting-a-ling-a-ling
Ting-a-ling-a-ling
And you'll sing "Vita bella"
Hearts'll play
Tippi-tippi-tay
Tippi-tippi-tay
Like a gay tarantella

When the stars make you drool
Joost-a like pasta fazool
That's amore
When you dance down the street
With a cloud at your feet, you're in love
When you walk in a dream
But you know you're not dreamin', signore
'Scusami, but you see
Back in old Napoli, that's amore

Dean Martin Amore

Quando chega domingo,
faço tenção de todas as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida.

Há quem vá para o pé das águas
deitar-se na areia e não pensar...
E há os que vão para o campo
cheios de grandes sentimentos bucólicos
porque leram, de véspera, no boletim do jornal:
«Bom tempo para amanhã»...
Mas uma maioria sai para as ruas pedindo,
pois nesse dia
aqueles que passeiam com a mulher e os filhos
são mais generosos.

Um rapaz que era pintor
não disse nada a ninguém
e escolheu o domingo para se matar.
Ainda hoje a família e os amigos
andam pensando porque seria.
Só não relacionam que se matou num domingo!

Mariazinha Santos
(aquela que um dia se quis entregar,
que era o que a família desejava,
para que o seu futuro ficasse resolvido),
Mariazinha Santos
quando chega domingo,
vai com uma amiga para o cinema.
Deixa que lhe apalpem as coxas
e abafa os suspiros mordendo um lencinho que sua mãe lhe bordou,
quando ela era ainda muito menina...

Para eu contar isto
é que conheço todas as horas que fazem um dia de domingo!
À hora negra das noites frias e longas
sei duma hora numa escada
onde uma velha põe sua neta
e vem sorrir aos homens que passam!
E a costureirinha mais honesta que eu namorei
vendeu a virgindade num domingo
— porque é o dia em que estão fechadas as casas de penhores!

Há mais amargura nisto
que em toda a História das Guerras.


Partindo deste principio,
que os economistas desconhecem ou fingem desconhecer,
eu podia destruir esta civilização capitalista, que inventou o domingo.
E esta era uma das coisas mais belas
que um homem podia fazer na vida!

Então,
todas as raparigas amariam no tempo próprio
e tudo seria natural
sem mendigos nas ruas nem casas de penhores...

Penso isto, e vou a grandes passadas...
E um domingo parei numa praça
e pus-me a gritar o que sentia.
mas todos acharam estranhos os meus modos
e estranha a minha voz...
Mariazinha Santos foi para o cinema
e outras menearam as ancas
— ao sol como num ritual consagrado a um deus! —
até chegar o homem bem-amado entre todos
com uma nota de cem na mão estendida...

Venha a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu fique rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras;
venha a ânsia do peito para os braços!

E vou a grandes passadas
como um louco maior que a sua loucura...
O rapaz que era pintor
aconchegou-se sobre a linha férrea
para que a morte o desfigurasse
e o seu corpo anónimo fosse uma bandeira trágica
de revolta contra o mundo.
Mas como o rosto lhe estava intacto
vai a família ao necrotério e ficou aterrada!
Conheci-o numa noite de bebedeira
e acho tudo aquilo natural.

A costureirinha que eu namorei
deixava-se ir para as ruas escuras
sem nenhum receio.
Uma vez que chovia até entrámos numa escada.
Somente sequer um beijo trocámos...
E isto porque no momento próprio
olhava para mim com um propósito tão sereno
que eu, que dela só desejava o corpo bem feito
me punha a observar o outro aspecto do seu rosto,
que era aquela serenidade
de pessoa que tem a vida cheia e inteira.
No entanto, ela nunca pôs obstáculo
que nesse instante as minhas mãos segurassem as suas.
Hoje encontramo-nos aí pelos cafés...
(ela está sempre com sujeitos decentes)
e quando nos fitamos nos olhos.
bem lá no fundo dos olhos,
eu que sou homem nascido
para fazer as coisas mais heróicas da vida
viro a cabeça para o lado e digo:
— rapaz, traz-me um café...

O meu amigo, que era pintor,
contou-me numa noite de bebedeira:
— Olha, quando chega domingo,
não há nada melhor que ir para o futebol...
E como os olhos se me enevoassem de água,
continuou com uma voz
que deve ser igual à que se ouve nos sonhos:
— .... no entanto, conheço um homem
que ia para a beira do rio
e passava um dia inteirinho de domingo
segurando uma cana donde caia um fio para a água...
... um dia pescou um peixe,
e nunca mais lá voltou...

O pior é pensar:
que hei-de fazer hoje, que toda a gente anda alegre
como se fosse uma festa?...
O rapaz que era pintor sabia uma ciência rara,
tão rara e certa e maravilhosa
que deslumbrado se matou.

Pago o café e saio a grandes passadas.
Hoje e depois e todos os dias que vierem,
amo a vida mais e mais
que aqueles que sabem que vão morrer amanhã!

Mariazinha Santos,
que vá para o cinema morder o lencinho que sua mãe lhe bordou...
E os senhores serenos, acompanhados da mulher e dos filhos,
que parem ao sol
e joguem um tostão na mão dos pedintes...
E a menina das horas longas e frias
continue pela mão de sua avó...
E tu, que só andas com cavalheiros decentes,
ó costureirinha honesta que eu namorei um dia,
fita-me bem no fundo dos olhos,
fita-me bem no fundo dos olhos!

Então,
virá a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu ficarei rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras:
e virá a ânsia do peito para os braços!

Domingo que vem,
eu vou fazer as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida!


DOMINGO - Manuel da Fonseca

Saturday, November 17, 2007

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

Soneto de amor - José Régio

Thursday, November 15, 2007

I get along without you very well
Of course, I do
Except when soft rains fall
And drip from leaves
Then I recall
The thrill of being sheltered in your arms
Of course, I do
But I get along without you very well

I've forgotten you just like I should
Of course, I have
Except to hear your name
Or someones laugh that is the same
But I've forgotten you just like I should

What a guy
What a fool am i
To think my breaking heart
Could kid the moon
Whats in store
Should I fall once more
No, its best that I stick to my tune

I get along without you very well
Of course, I do
Except perhaps in spring
But I should never think of spring
For that would surely break my heart in two


Hoagy carmichael



Wednesday, November 14, 2007

You're the night, Lilah. A little girl lost in the woods.
You're a folk tale, the unexplainable

You're a bedtime story. The one that keeps the curtains closed.
I hope you're waiting for me cause I can make it on my own.
I can make it on my own.

It's too dark to see the landmarks. I don't want your good luckcharms.
I hope you're waiting for me across your carpet of stars.
You're the night, Lilah. You're everything that we can't see.
Lilah, you're the possibility.

You're the bedtime story. The one that keeps the curtainsclosed.
And I hope you're waiting for me cause I can make it on my own.
I can make it on my own.

Unknown the unlit world of old. You're the sounds I never heardbefore.
Off the map where the wild things grow. Another world outside mydoor.
Here I stand I'm all alone. Drive me down the pitch black road.
Lilah you're my only home and I can't make it on my own.

You're a bedtime story. The one that keeps the curtains closed.
And I hope you're waiting for me cause I can make it on my own.
I can make it on my own.

You're the paint can falling off the wall at the door that slamsat the end of the hall where the kid rings sounds of basketball.The battle of the earth of the angels. The shifting snow driftsso realistic, so realistic - call you carpet of stars. See thereis something in the yard. It's awful dark. With the paintedstrings, the cross, the good luck charm, the prayer, the extralayer. The group ???...

The night - Morphine

Thursday, November 8, 2007

Quando eu vou parar e olhar pra mim?
Ficar de fora
E olhar por dentro
Se eu não consigo
Organizar minhas idéias
Se eu não posso
Se eu esqueço de mim?

Eu pensei que fosse forte
Mas eu não sou

Quando eu vou parar pra ser feliz?
Que hora?
Se não dá tempo
Se eu não me encontro
Nos lugares onde eu ando
Nem me conheço
Viro o avesso de mim

Se eu não sei o que é sonhar
Faz tanto tempo
Tanto mar
E o meu lugar
É aqui!

Uma rua atravessada em meu caminho
Nos meus olhos
Mil faróis
Preciso aprender a andar sozinho
Pra ouvir minha própria voz
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim?

Ana Carolina

Sunday, November 4, 2007

"Sabes, tenho “terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo. Mal de te amar neste lugar de imperfeição onde tudo nos quebra e emudece, onde tudo nos mente e separa.

A receita do nosso amor foi simples: descobrimos a vontade de derrubar muros e a teimosia de não os deixar erguer contra nós. Sorrateiros, ao saberem-nos menos vigilantes, depositavam uma pedra aqui e outra além. Somavam depois outra.

Nos dias em que amar é hino – nem todos servem para viver o amor – o calor das minhas nas tuas mãos, o mergulho do teu olhar nos meus, limpa de escolhos o prado verde em que os nossos corpos se inventam no bailado da entrega.

Lembro-me de te dizer que tenho palavras proibidas – sempre e nunca. Que nos dias pobres em gosto pelo que sou, o amor que sinto esmorece. Porque olhei através do microscópio para dentro e para trás do presente. Foquei a objectiva para fracções ínfimas de vida e distraí-me do todo. Porém, foi com tinta invisível que tatuámos este amor. E ninguém soube ou viu a nossa pele marcada irreversivelmente.”

De ti já nada sei. Ou quero saber. E tu de mim. O acaso cruzou-nos há dias. Ido o amor. A pele marcada. Ainda."


http://sempenisneminveja.weblog.com.pt/

Saturday, November 3, 2007

Each time I see a crowd of people
Just like a fool I stop and stare
It's really not the proper thing to do
But maybe you'll be there
I go out walking after midnight
Along the lonely thoroughfare
It's not the time or place
To look for you
But maybe you'll be there
You said your arms would always hold me
You said your lips were mine alone to kiss
Now after all those things you told me
How can it end like this
Someday if all my prayers are answered
I'll hear a footstep on the stair
With anxious heart
I'll hurry to the door
And maybe you'll
Be there

Gordon Jenkins

Friday, November 2, 2007

"com o teu tão extenso email fiquei a saber que, afinal, viste-me sempre como um monstro. parece que desenvolvo pernas a partir das orelhas e braços no umbigo. fico quieto. tenho uma caverna de monstro onde posso rugir sem te incomodar. ficarei a comer comida de monstro e a matar o amor de monstro que tinha por ti, até poder sair de novo para um destino de monstro a que não poderei escapar"

By Valter Hugo Mãe
http://casadeosso.blogspot.com/

Friday, October 19, 2007

"My body is a cage that keeps me
From dancing with the one I love
But my mind holds the key

I'm standing on a stage
Of fear and self-doubt
It's a hollow play
But they'll clap anyway

You're standing next to me
My mind holds the key

I'm living in an age
That calls darkness light
Though my language is dead
Still the shapes fill my head

I'm living in an age
Whose name I don't know
Though the fear keeps me moving
Still my heart beats so slow

You're standing next to me
My mind holds the key
My body is a

My body is a cage
We take what we're given
Just because you've forgotten
That don't mean you're forgiven

I'm living in an age
That screams my name at night
But when I get to the doorway
There's no one in sight

You're standing next to me
My mind holds the key

Set my spirit free
Set my spirit free
Set my body free"

Arcade Fire


Wednesday, October 17, 2007

“Choose life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television. Choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers..... Choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind numbing, spirit crushing game shows, stuffing junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pissing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked-up brats you spawned to replace yourself. Choose your future. Choose life... But why would I want to do a thing like that?”
EWAN McGREGOR (Renton) in TRAINSPOTTING

Monday, October 15, 2007

"taxidermia

O francês Roland Barthes, no seu ensaio 'A Câmara Lúcida', diz-nos que a fotografia não é uma representação do real; é o seu duplo perene que acentua a efemeridade do real. É aquilo que nunca mais volta a ser, é o que foi, um duplicado da nossa própria passagem em determinado momento. Depois vai mais longe e correlaciona a fotografia com a Morte, com a transformação do objecto fotografado em espectro, cuja metamorfose o fotógrafo reconhece e teme. O fotógrafo embalsama momentos únicos da nossa existência - a Prova da nossa existência - como se fosse o taxidermista desse 'ter existido', com a diferença que não falseia o interior dos corpos.
Todos os momentos são fugazes e irrepetíveis. A fotografia é eterna, como a Morte."

in http://vontade-indomita.blogspot.com/

Thursday, October 11, 2007

sim
se
(ao menos)
pudéssemos fazer um pouco mais de silêncio
(todos nós)
compreenderíamos
(certamente)
qualquer coisa nova
ou diferente
mas não
fizemos deste ruído
(dentro)
o nosso hábito
e não compreendemos
(quase)
nunca
nada
La vocce della luna, Frederico Fellini

Wednesday, October 3, 2007

Recado

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer - vai por esse campo
de crateras extintas - vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo - deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração - ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna - o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite

não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira - não esqueças o ouro
o marfim - os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço

Al Berto

Saturday, September 15, 2007

Um dia diferente

Pouco antes de adormecer, naquele instante em que as mãos percorriam o teu rosto, lendo em Braille os sentimentos de ambos. Ali surgiram recordações de nós dois. Um Flashback de tudo o que passamos, recordo, o primeiro olhar, cego, em que ambos olhamos sem certezas do que observávamos. Um ignorar de algo que nunca poderia ser ignorado. Agora aqui estou ao teu lado, sem darmos conta percorremos o tudo que antes era nada. Abraço-te no calor de uma noite fria, sem nada temer. Agora sinto as certezas daquela brisa nocturna que carrega até mim essas recordações : esquecidas; perdida, no passado que agora recordo. Percorro esse teu sorriso e subitamente arrependo-me profundamente de certos actos, arrependo-me apesar de estarmos juntos. Aquele sentimento invade, cada pedaço da minha pele. Quero continuar ao teu lado, para além deste presente, daquele passado quero construir um único e nosso futuro. Nada será escuro, a idade das trevas já lá vai e eu irei iluminar cada manhã como aquelas de verão que tanto desejamos. Acordarei sempre ao teu lado, sem desejar outro final alternativo. Aos poucos e poucos ia-me dando por vencido, lentamente, meus olhos fechavam perante a tua beleza. Ao fecha-los recordo, ainda o teu rosto dessa leitura de Braille feita pelo toque da minha pele na tua, desenhando a mais bonita das imagens na escuridão de um quarto. Amanhã irei acordar cedo, antes mesmo dos teus primeiros movimentos matinais, irei fazer aquilo que já devia ter feito a muito tempo atrás. Decidido adormeço em segundos, abraçado a esse teu corpo pleno de certezas. Adormeço por entre um desejo, ( o teu desejo).

in http://prosa-dor.blogspot.com/

Friday, September 14, 2007

(Oh that feelin's rising...
rising over me)
Oh, that song is singin'
Singin' in to me.
Over everything,
I used to be.

Oh, that song is singin'
Singin' in to me.

Slow and sweet
It caries me
Caries me (x3)
Out to sea

And swallows me
In to the deep
And comforts me (x2)

(Oh, it's all around me, it's all I can see
Even when I close my eyes, It's holdin' me)
Oh, that weight is liftin'
Liftin' on me

(Tenderly)
It caries me
Out to the sea
And swallows me (x3)
Into the deep
And comforts me (x2)
In ... In to the deep
And comforts me (x3)

Oh, that silence signin', singing to me...

Breathe up to me (x2)
Breathe in through me
Breathe out through me
Breathe in through me

ooh Breathe out through... through me
Why don't you breathe in... breathe in through me
and breathe out through me

The cinematic Orchestra - Breathe


Tuesday, September 11, 2007

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta
Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro tristeza e tinta fresca
Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de gentileza
Por isso eu pergunto
A você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria
O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o profeta

Marisa Monte

Friday, September 7, 2007

São os olhos que aproximam os lugares ao coração.
Agora que regressamos é nisto que penso
enquanto fazemos sinais uns para os outros com as luzes
dos carros, na rápida estrada, ao anoitecer.
Olha-se devagar para a vida e sobretudo assim
damos conta dos silêncios,
dos nomes devolvidos ao tão breve silêncio.
A casa vincada pela névoa, a
aldeia imobilizada ao passearmos em grupos,
o café que me conforta quando o recebo entre as mãos.
Como dizer que são estas as mais secretas regiões da alma
a que voltamos sempre
nos maiores frios de Dezembro?
Se de repente dizem que estamos a uma eternidade
frágil dos dias inquietos,
cruzas uma palma da mão sobre a outra e olhas para as
unhas, rindo de quando em vez para mim, que fico tão feliz.
E no regresso, quando os sobressaltos se repetem
e anoitece nas estradas vazias e o mundo adormece,
há uma solidão que estremece as bermas e nos aflige debaixo da
língua, como uma chuva miudinha.
Como falar depois da tua inclinada cara a meu lado
e do recanto mais longínquo dos pinhais?
Como acreditar que o tempo não trará aos olhos a maior
solidão
em que ficamos ?

Rui Coias

Wednesday, September 5, 2007

Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém
Fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim, pesa, pondera
Outra parte, delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte, linguagem
Traduzir uma parte noutra parte
Que é uma questão de vida ou morte
Será arte??

Traduzir-se
Ferreira
Gullar

Sunday, September 2, 2007

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

Um dia pego na estrela que trago no coração
E atiro-a à cara de alguém...

Um dia agarro todos os meus sonhos
E todos os meus sorrisos
E deito-os num poço,
Já que ninguém os quer...

Um dia junto as pétalas das rosas
E a ternura que trago nas minhas mãos
E ponho-as às costas duma pessoa qualquer...

Um dia apanho o meu olhar mais doce,
O meu búzio mais lindo
E a concha do mar da minha infancia
E deixo-as morrer de fome...

Um dia vou dentro da minha alma
tiro-lhe todos os tesouros
E os mais lindos poemas que trago comigo
E rasgo-os diante duma multidão...

Um dia as asas dos meus pássaros
Baterão com tanta força
Que irei com elas a voar... voar...

Um dia drogo-me por saudade
Da minha ternura perdida,
Violento-me e violento
Uma menina de tranças louras...

Um dia roubo um banco,
Compro uma mota
E fujo para o fim do mundo...

Ai! Dou um beijo a qualquer desconhecido.
Aquele beijo que sempre quis dar...

Júlio Roberto

Wednesday, August 29, 2007

Soñé que el fuego helaba
Soñé que la nieve ardía
Y por soñar lo imposible
Soñé que tú me querías.
(Anónimo)

Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar
E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se emperiquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia

Belo e sereno era o som
Que lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris inertes no chão
Falavam de astronomia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
E a policía já não batia

De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava
Na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias

Soñé que el fuego heló
Soñé que la nieve ardía
Y por soñar lo imposible, ay, ay
Soñé que tú me querías

Outros Sonhos - Chico Buarque

Sunday, August 19, 2007


"O nosso medo mais profundo

não é o de sermos inadequados.

O nosso medo mais profundo

é que somos poderosos

além de qualquer medida.

É a nossa luz,

não as nossas trevas,

que mais nos apavora.

Nós nos perguntamos:

Quem sou eu para ser:

Brilhante...

Maravilhoso...

Talentoso...

Fabuloso...

Na realidade

quem é você

para não ser?

Você é filho do universo.

Se você se fizer de pequeno

não ajuda o mundo.

Não há iluminação

em se encolher,

para que os outros

não se sintam inseguros

quando estão perto de você.

Nascemos para manifestar

a glória do Universo

que está dentro de nós.

Não está apenas

em um de nós:

ESTÁ EM TODOS NÓS!

E conforme deixamos

nossa própria luz brilhar,

inconscientemente

damos às outras pessoas

permissão para fazer o mesmo.

E conforme nos libertamos

do nosso medo,

a nossa presença,

automaticamente,

liberta os outros."

Nelson Mandela

Wednesday, August 15, 2007

Cm7                    F7/13
La mujer que al amor no se asoma
Bb7+ G7
No merece llamarse mujer
Cm7 Cm7/b5
Es cual flor que no esparce su aroma
Bb7+ G7(#5)
Como un leño que no sabe arder

Cm7 F7/13
La pasión tiene un mágico idioma
Bb7+ G7
Que con besos se debe aprender
Cm7 D#m7 Bb7+ G7
Puesto que una mujer que no sabe querer
C7 F7
No merece llamarse mujer

Bb7+ Gm7 Cm7 F7 Dm7 G7(#5)
Una mujer debe ser / Soñadora, coqueta y ardiente
Cm7 D#m7 Bb7+ G7
Debe darse al amor / Con frenético ardor
Cm7 F7/13 Bb7+
Para ser una mujer

Ahora que se afierra a la vida
Ahora su alma comienza a nacer
Puesto que una mujer que no sabe querer
No merece llamarse mujer

Una Mujer - Paul Misraki / Pondal Ríos / Olivar
por Adriana Calcanhotto

Wednesday, August 8, 2007

Agosto azul

"São quase sete da tarde e o meu relógio está atrasado. Estes fins de tarde de Agosto são um momento de pacificação. As manhãs são de muita actividade e as tardes de muito sofrimento porque tento trabalhar e não consigo. Tento falar com os amigos ao telefone, mas tenho medo que estejam de férias. Agosto é um Domingo prolongadíssimo. E o Domingo é, para mim, o pior dia da semana. Fisicamente tenho sido forte e psiquicamente frágil. A minha mãe achava que eu era uma planta. E, para o meu pai, eu devia ter sido um rapaz e médico. Os meus pais tratavam-me quase sempre pelo Zé. "O meu Zé" dizia a minha mãe mesmo quando eu tinha 34 anos. E continuaria a dizer hoje se não tivesse morrido. As memórias são um moinho. Moem, roem. As águas passadas movem este moinho estranho, este besouro metido na cabeça, nas células. Mas como diz Péguy não é nada tarde para pensar no amanhã. Às vezes Deus esconde-se ou eu não dou por ele. Acho que é uma falha minha, uma quebra de atenção."

By Adília Lopes

Tuesday, July 31, 2007

Lâmina de barbear
Abre um armário espelhado,pega em mim.

Pousa-me no lado direito do lavatório.
Inclina-se.
No instante em que a água quente corre da torneira
nas mãos em concha mergulhao rosto;
emerge para o aproximarum pouco mais do espelho
e repara nas linhasque se formaram nos últimos anos à volta dos olhos.
O creme percorre a pele áspera, suaviza-a, quase uma carícia. Calmamente começa a fazer a barba: movimentos certos, conhecidos.
Olha para o seu lado esquerdo. Removida do rosto uma sombra, outra, ainda sem nome,investe já contra a pele.

in O Acidente, Jorge Gomes Miranda

Thursday, July 26, 2007

'Let's get lost, lost in each other's arms
Let's get lost, let them send out alarms

And though they'll think us rather rude
Let's tell the world we're in that crazy mood.
Let's defrost in a romantic mist
Let's get crossed off everybody's list
To celebrate this night we found each other, mmm, let's get lost
[horn solo]
[
piano solo]
Let's defrost in a romantic mist
Let's get crossed off everybody's list

To celebrate this night we found each other, mm, let's get lost oh oh, let's get lost'

By Chet Baker

Monday, July 23, 2007

Cupido

"Eu vi quando você me viu
Seus olhos pousaram nos meus
Num arrepio subtil

Eu vi, pois é, eu reparei
Você me tirou pra dançar
Sem nunca sair do lugar
Sem botar os pés no chão
Sem música pra acompanhar

Foi só por um segundo
Todo o tempo do mundo
E o mundo todo se perdeu

Eu vi quando você me viu
Seus olhos buscaram nos meus
O mesmo pecado febril

Eu vi, pois é, eu reparei
Você me tirou todo o ar
Pra eu que pudesse respirar
Eu sei que ninguém percebeu
Foi só você e eu

Foi só por um segundo
Todo o tempo do mundo
E o mundo todo se perdeu

Ficou só você e eu
Quando você me viu."

De Cláudio Lins
Por Maria Rita

Saturday, July 21, 2007

“(...)
Precisei de conhecer
O que a vida tem de melhor,
Quando dois corpos brincam com a felicidade
E se unem e renascem sem fim.
(...)
E o amor, onde tudo é fácil,
Onde tudo é dado no momento;
Existe no meio do tempo
A possibilidade de uma ilha.”

in A POSSIBILIDADE DE UMA ILHA, de Michel Houllebecq

Wednesday, July 18, 2007

"So be it, Im your crowbar
If thats what I am so far
Until you get out of this mess
And I will pretend
That I dont know of your sins
Until you are ready to confess
But all the time, all the time
Ill know, Ill know
And you can use my skin
To bury secrets in
And I will settle you down
And at my own suggestion,
I will ask no questions
While I do my thing in the background
But all the time, all the time
Ill know, Ill know
Baby-I cant help you out, while shes still around
So for the time being, Im being patient
And amidst this bitterness
If youll just consider this-even if it dont make sense
All the time-give it time
And when the crowd becomes your burden
And youve early closed your curtains,
Ill wait by the backstage door
While you try to find the lines to speak your mind
And pry it open, hoping for an encore
And if it gets too late, for me to wait
For you to find you love me, and tell me so
Its ok, dont need to say it."

You Know - Fiona Apple
"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!

Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranquilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho"

Eça de Queiroz, O Primo Basílio

Tuesday, July 17, 2007

A Bela Acordada

"Era uma vez uma mulher que tão depressa era feia era bonita, as pessoas diziam-lhe:
- Eu amo-te.
E iam com ela para a cama e para a mesa.
Quando era feia, as mesmas pessoas diziam-lhe:
- Não gosto de ti.
E atiravam-lhe com caroços de azeitona à cabeça.
A mulher pediu a Deus:
- Faz-me bonita ou feia de uma vez por todas e para sempre.
Então Deus fê-la feia.
A mulher chorou muito porque estava sempre a apanhar com caroços de azeitona e a ouvir coisas feias. Só os animais gostavam sempre dela, tanto quando era bonita como quando era feia como agora que era sempre feia. Mas o amor dos animais não lhe chegava. Por isso deitou-se a um poço. No poço, estava um peixe que comeu a mulher de um trago só, sem a mastigar.
Logo a seguir, passou pelo poço o criado do rei, que pescou o peixe.
Na cozinha do palácio, as criadas, a arranjarem o peixe, descobriram a mulher dentro do peixe. Como o peixe comeu a mulher mal a mulher se matou e o criado pescou o peixe mal o peixe comeu a mulher e as criadas abriram o peixe mal o peixe foi pescado pelo criado, a mulher não morreu e o peixe morreu.
As criadas e o rei eram muito bonitos. E a mulher ali era tão feia que não era feia. Por isso, quando as criadas foram chamar o rei e o rei entrou na cozinha e viu a mulher, o rei apaixonou-se pela mulher.
- Será uma sereia ? . perguntaram em coro as criadas ao rei.
- Não, não é uma sereia porque tem duas pernas, muito tortas, uma mais curta do que a outra . respondeu o rei às criadas.
E o rei convidou a mulher para jantar.
Ao jantar, o rei e a mulher comeram o peixe. O rei disse à mulher quando as criadas se foram embora:
- Eu amo-te.
Quando o rei disse isto, sorriu à mulher e atirou-lhe com uma azeitona inteira à cabeça. A mulher apanhou a azeitona e comeu-a. Mas, antes de comer a azeitona, a mulher disse ao rei:
- Eu amo-te.
Depois comeu a azeitona. E casaram-se logo a seguir no tapete de Arraiolos da casa de jantar."

in Adília Lopes: Obra, Lisboa, 2001.

Monday, July 16, 2007


Poema dum Funcionário Cansado
"A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só
num quarto só com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só.
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente e debitou-me na minha
conta de empregado.
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino irmão beijo namorada mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só."
António Ramos Rosa