Lâmina de barbear
Abre um armário espelhado,pega em mim.
Pousa-me no lado direito do lavatório.
Inclina-se.
No instante em que a água quente corre da torneira
nas mãos em concha mergulhao rosto;
emerge para o aproximarum pouco mais do espelho
e repara nas linhasque se formaram nos últimos anos à volta dos olhos.
O creme percorre a pele áspera, suaviza-a, quase uma carícia. Calmamente começa a fazer a barba: movimentos certos, conhecidos.
Olha para o seu lado esquerdo. Removida do rosto uma sombra, outra, ainda sem nome,investe já contra a pele.
in O Acidente, Jorge Gomes Miranda
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