Wednesday, August 8, 2007

Agosto azul

"São quase sete da tarde e o meu relógio está atrasado. Estes fins de tarde de Agosto são um momento de pacificação. As manhãs são de muita actividade e as tardes de muito sofrimento porque tento trabalhar e não consigo. Tento falar com os amigos ao telefone, mas tenho medo que estejam de férias. Agosto é um Domingo prolongadíssimo. E o Domingo é, para mim, o pior dia da semana. Fisicamente tenho sido forte e psiquicamente frágil. A minha mãe achava que eu era uma planta. E, para o meu pai, eu devia ter sido um rapaz e médico. Os meus pais tratavam-me quase sempre pelo Zé. "O meu Zé" dizia a minha mãe mesmo quando eu tinha 34 anos. E continuaria a dizer hoje se não tivesse morrido. As memórias são um moinho. Moem, roem. As águas passadas movem este moinho estranho, este besouro metido na cabeça, nas células. Mas como diz Péguy não é nada tarde para pensar no amanhã. Às vezes Deus esconde-se ou eu não dou por ele. Acho que é uma falha minha, uma quebra de atenção."

By Adília Lopes

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